Verbos da Palavra

Nascer

Jesus, ao longo da sua vida, foi surpreendido por várias perguntas. Jesus foi um homem de perguntas, mas foi também homem de boas respostas.
Este Domingo foi a vez dos saduceus – que não acreditavam na ressurreição – desafiarem o Mestre sobre uma situação de um casamento contraído várias vezes pela mesma pessoa (Lc 20, 27-38). Como será depois da morte? Com quem estaria casada aquela mulher?
A resposta de Jesus parece desvalorizar o valor do matrimónio: «Os filhos deste mundo casam-se e dão-se em casamento. Mas aqueles que forem dignos de tomar parte na vida futura e na ressurreição dos mortos, nem se casam nem se dão em casamento». Não me parece que seja uma desvalorização de um bem tão grande e tão apreciado pelo próprio Senhor, conforme lemos noutras passagens evangélicas. Jesus pretende esclarecer os incrédulos e astutos saduceus sobre a vida eterna.
A morte é um renascer para a vida eterna. E de que forma renascemos? Renascemos como filhos, filhos de Deus: «Porque nasceram da ressurreição, são filhos de Deus». A ressurreição é um novo nascimento. Por isso, o que importa não o casar-se ou o dar-se em casamento. O que está em jogo é nascer para a nossa verdadeira meta: sermos filhos pelo Filho.
A morte não significa o fim. Esta peregrinação que percorremos ao longo da nossa curta existência é simplesmente o prelúdio de uma bela sinfonia composta pelo Pai dos Céus e interpretada no palco da eternidade. O Deus de Israel não é um Deus da morte, nem tampouco de fins. O nosso Deus sugere-nos recomeços e novos horizontes para vivermos em plenitude: «Não é um Deus de mortos, mas de vivos».
O amor de Deus é criativo, é gerador de (re)nascimentos e de vida renovada. Não se perturbe o nosso coração com a incerteza do amanhã escatológico. Console-nos a promessa do Céu e o coração de um Deus que deseja que nasçamos da ressurreição. Não é assim o coração de um pai?

Francisco Maria de São José
Domingo XXXII do Tempo Comum [Ano C]
6 de novembro de 2022