Pilares do nosso viver
O meu nome é Ana, tenho 26 anos.
Foi-me colocado o desafio de escrever sobre a minha visão sobre a vocação, a entrega e a consagração.
Não posso dizer que seja algo fácil, é-me difícil colocar por palavras os vários pensamentos que tenho. Ainda assim vou tentar, aqui.
Não me encontro numa fase estável na minha vida, estou rodeada de dúvidas, inseguranças, medos, sentimentos de autodestruição e a lidar com algo que até há pouco tempo me era desconhecido, a perda. Com isto, decidi centrar este texto numa pessoa muito especial para mim, na pessoa que me criou e me ensinou grande parte dos valores nos quais acredito e sigo hoje em dia, que me ensinou o significado de vocação, entrega e consagração, a minha avó.
Perdi a minha avó no início de 2020, chama-se Vladimira, mas o nome pelo qual é mais conhecida é Mira. Continuo a usar os verbos no presente, porque apesar de ela não estar comigo fisicamente, acredito que ela está em algum lado a olhar por mim. Assim como os Anjos da Guarda costumam fazer, e esta comparação parece-me ser bastante pertinente uma vez que a minha avó sempre foi o meu Anjo da Guarda, ao longo de toda a minha vida.
Claro que foi ela que me ensinou todas as coisas sobre a Igreja e sobre Deus, a Fé dela é algo do qual nunca me esquecerei. Desde pequenina, quando a minha mãe me deixava em casa dela e do meu avô, Abílio, porque tinha de ir trabalhar, que me deitava na cama deles, mesmo no meio, e rezava sempre o Pai Nosso e a Avé Maria antes de voltar a dormir mais um pouco. Sempre a acompanhei a todos os eventos religiosos aos quais ela ia, e ela sempre me explicou todas as coisas sobre as quais tinha dúvidas, como por exemplo, o que era um terço, para que servia, quem era Deus, e por aí fora.
Não posso dizer que à medida que fui crescendo a minha Fé, nos moldes que falei anteriormente, a Fé em Deus, foi crescendo. Neste momento não me assumo como uma pessoa cristã, estou mais no grupo de pessoas que acreditam que pode existir alguma coisa, mas que não sabem bem o quê. Agora, algo que foi crescendo comigo foi exatamente a Fé que tenho na minha avó.
Recordo-a com muita alegria, com muitas memórias boas, mas sempre com aquele desejo de que faltavam ser criadas mais ainda. A verdade é que acreditava que a podia ter ao meu lado, fisicamente, para sempre, ainda que isso não exista, mas existe sempre esse desejo, essa esperança.
Considero-me uma das pessoas mais sortudas do mundo por ter podido receber todos os ensinamentos que recebi e ter crescido ao lado da minha avó, todo o carinho, cuidado e compreensão que sempre tive, por parte dela, ao longo das várias fases da minha vida são de uma devoção muito bonita e especial.
Neste momento continuo este caminho de alguma forma. Sem a ter ao meu lado, mas sempre com a crença de que, ao mesmo tempo, a tenho. Sigo este caminho na esperança de um dia poder voltar a caminhar ao seu lado.
Ana Lopes
Atriz e fotógrafa
Porto, 2 de dezembro de 2022
Abro a janela e faz frio lá fora.
A geada cobre o relvado
que outrora foi palco de brincadeiras de infância.
As mãos frias e trémulas
recordam-me as mãos e os abraços
que me tornaram aquilo que sou.
Jamais esquecerei,
apesar da dor e da saudade,
que não sou só.
A luz que me atravessa o coração
e rasga a noite arrefecida pelas lágrimas
é promessa de lume novo.
O olhar volta-se para o alto,
para uma certeza que me habita.
Espero. Por isso, sou.
Ámen.
Em os 30 Dias com Frei Francisco Maria pretende-se criar um lugar de reflexão e oração para e com o Frei Francisco Maria que, no dia 28 de janeiro de 2023, fará a sua Profissão Solene.
Cada dia, acompanhado por um rosto e um texto concretos, o Frei Francisco Maria fará a sua preparação espiritual para a sua entrega definitiva ao Senhor.
Acompanhado por tantas pessoas, rezará por cada uma e por cada um, de forma a todos incluir nesta caminhada rumo à sua consagração definitiva no Carmelo Descalço.
Honrar e recordar sempre quem fez parte da nossa história.