Multiplicidade de tarefas e a angústia de, eventualmente, algo falhar

Conseguir encontrar um fio condutor para explanar duas, melhor dizendo, três atividades tão distintas é a tarefa a que me proponho nas linhas e entrelinhas seguintes.
Inicio com a atividade profissional… Há 28 anos abracei a docência… A perspetiva inicial de rapidamente conseguir efetivar numa escola perto de casa revelou-se uma miragem e quase uma utopia… Ainda hoje, a insegurança da distância da escola me persegue todos os meses de setembro (mesmo fazendo parte de um quadro de zona). Contudo, o contacto com os alunos revela-se muito frutífero, sobretudo quando se consegue obter sucesso. É um trabalho árduo e tem-se intensificado ao nível da burocracia e facilitismo de leis e projetos que nos arrastam para um marasmo de ineficácia e coartam a nossa ação de formadores e educadores. Gosto de me reinventar para que possa ir ao encontro das expectativas dos meus alunos, mas simplificar a exigência e deixar de formar bons cidadãos revolta-me muito. É muito cansativo tentar ensinar quem não quer aprender.
Diariamente, somos bombardeados com projetos, tabelas, avaliações, legislações que nos empurram para o cansaço e desânimo da profissão.  Não sei que estranha força nos agarra a um trabalho que tanto nos esgota… Talvez a réstia de esperança de conseguir fazer a diferença em alguns dos jovens que fazem parte do grupo de trabalho. É uma luta constante, diária e dura… Esta profissão ocupa demasiadas horas do tempo que deveria dedicar à família…
Eu sei que são muitos os exemplos dos Santos que nos ensinam a aceitar com abnegação todos os padecimentos, mas a vida atual e do dia a dia não se compadece com este tipo de subserviência…
Quanto à participação no Grupo Coral e Instrumental do Carmo, já lá vão trinta e seis ou trinta e sete anos… Este grupo de amigos faz parte da minha vida e, como alguém já disse, são a família que escolhemos! Ao longo destes anos, muitas foram as atividades que nos uniram e as vivências cristãs que nos ligaram. Crescemos muito e vimos os outros crescerem muito e, como todas as famílias, soubemos ultrapassar os problemas que surgiram (e foram alguns) e que vão surgindo! Todos temos famílias construídas fora do grupo, mas soubemos manter este elo de ligação que nos faz todos os fins de semana regressar à nossa segunda casa, a Igreja do Carmo! Volta e meia, questionamo-nos sobre a permanência e continuação do grupo… a faixa etária também cresceu e, por vezes, torna-se complicado deixar o calor da casa! Ainda por cima, foram surgindo toda uma outra série de problemas (saúde, acompanhamento dos pais idosos, filhos, profissões complicadas…). Esperemos que o “Deus menino”, que se coloca todos os anos nas nossas mãos, nos alente e incentive a continuar. A música é o elo de ligação à oração que nos faz ascender a um patamar melhor… Só peço força e vontade de permanecer fiel aos desígnios traçados…
Por fim, evoco a minha tarefa mais complexa e que une todas as outras – o facto de ser esposa e mãe!
Conseguir encontrar pontes de equilíbrio entre todas as vertentes da vida e não descurar esta tarefa de superior importância, é o maior desafio que me coloco todos os dias! Por um lado, tenho a necessidade de ser, de alguma forma, exemplo tentando encontrar consensos. Por outro lado, também não quero abdicar daquilo que traz felicidade e energia que é o cantar e ensinar… Houve já muitas alturas que questionei tudo e repensei a utilização do meu tempo… Contudo, lá vou conseguindo encaixar todas as atividades de forma a sentir-me útil e completa…Tenho uma família super amiga e que me apoia, mesmo quando exagero na entrega às outras causas. Disto devo dar sempre graças! Peço muito a Deus que me oriente e proteja os meus no sentido da alegria, integridade, honestidade e humanidade! Este sim é um trabalho diário e permanente!
Agradeço profundamente pela oração de que seremos todos alvo! Que Deus nos dê sempre muita luz, mesmo em tempo de trevas e guerras…
Louvado seja Deus!

Anabela Ameixinha
Professora
21 de dezembro de 2022

Por tantos fios e redes
vamos escrevendo as nossas vidas.
Sem Ti, nossa Luz e Salvação,
não seria possível.
Carrego no coração as dores e as lutas
de tantas e de tantos
que vivem o dia-a-dia com total entrega.
Agradeço-te o dom da sua vida,
o sacrifício oferecido diariamente
que, unido ao Teu,
se transforma em pão partido,
sacramento da Tua presença.
Ámen.

Em os 30 Dias com Frei Francisco Maria pretende-se criar um lugar de reflexão e oração para e com o Frei Francisco Maria que, no dia 28 de janeiro de 2023, fará a sua Profissão Solene.
Cada dia, acompanhado por um rosto e um texto concretos, o Frei Francisco Maria fará a sua preparação espiritual para a sua entrega definitiva ao Senhor.
Acompanhado por tantas pessoas, rezará por cada uma e por cada um, de forma a todos incluir nesta caminhada rumo à sua consagração definitiva no Carmelo Descalço.