Se há relatos evangélicos que me fazem arrepiar e estremecer, o deste Domingo é um deles (Mt 15,21-28).
Somos convidados a escutar o episódio da mulher cananeia e da cura da sua filha. Numa atitude paradoxal, Jesus parece fechar o seu coração às súplicas e gritos desta mulher estrangeira. O amor de Deus e de seu Filho seriam exclusivos de uma raça ou de um grupo seleto de pessoas? Naturalmente que não. Na Primeira Leitura, retirada do livro do Profeta Isaías, ouvimos que não: «a minha casa será chamada ‘casa de oração para todos os povos», afirma o próprio Deus.
O exemplo desta mulher deve desafiar-nos a sabermos pedir, a insistirmos com Deus. Nada é demais. Perante um amor infinito, peçamos com infinita insistência. Gritemos, supliquemos, clamemos. Façamos ouvir a nossa voz. Um coração sincero que chora toca o coração de Deus. Afinal, apesar de não se sentar à mesa e de comer apenas as migalhas, esta mulher cananeia mereceu ouvir estas palavras consoladoras de Jesus: «Mulher, é grande a tua fé. Faça-se como desejas».
Francisco Maria de São José
Domingo XX do Tempo Comum [Ano A]
20 de agosto de 2023