«No meio de vós está Alguém que vós não conheceis» (Jo 1, 26), diz-nos São João Batista.
Será que eu acredito mesmo no amor de Deus por mim? Não, muito provavelmente não. Pois tenho medo de ser eu próprio e de que Jesus não goste de mim. Pois, tantas vezes, nem eu próprio gosto de mim mesmo. E preferiria não admiti-lo. Não é assim que nós somos?
Então, entro na igreja, faço o Sinal da Cruz à pressa, ajoelho-me rigidamente e rezo mecanicamente a Jesus no Sacrário. Pois acho que estou a incomodar.
«No meio de vós está Alguém que vós não conheceis» (Jo 1, 26). Não, nós não conhecemos. Infelizmente, muitos de nós fomos habituados ao desamor. E desde que fomos rejeitados, humilhados, traídos e ignorados, perdemos a coragem de amar e de ser amados. Perdemos a coragem de olhar Jesus nos olhos. Achamos que os outros são dignos do Seu amor, mas nós não.
E no entanto, Ele está ali, no pretório, com os pés descalços no chão frio, a sangrar das pernas e com uma coroa de espinhos a perfurar-Lhe o crânio. A dizer-nos só pelo olhar: “É por ti. Eu amo-te. Por ti, aguento isto e pior. Amo-te tanto, tanto, tanto!”.
E Ele avança pelo calvário acima e sussurra-nos no interior da nossa alma: “Para Mim, és belíssimo. Só de te ver fico feliz, és o motivo do Meu sorriso, cada segundo da tua existência Me interessa. Não precisas de mendigar o afeto dos outros, todo o Meu afeto é para ti, aceita-o, quero tanto que te sintas amado, a tua felicidade é o objeto dos Meus pensamentos. Quero tanto fazer-te feliz”.
E Jesus morre na Cruz. E aceita ficar num pedacinho de pão, todos os dias, até ao fim, neste mundo desolador e assustador, apenas por ti. Jesus sabia muito bem dos crimes e blasfémias abomináveis que fariam contra Ele no Santíssimo Sacramento. De como seria abandonado e desacreditado por tantos no Sacrário. E ficou. Por ti. Porque te ama. Porque quer ser a tua força e o teu alimento, porque quer fundir-Se contigo a cada comunhão, estreitar cada vez mais essa amizade e esse amor.
Se nós somos um incómodo, então Ele quer muito ser incomodado por nós. Incomodado 24 horas por dia e sete dias por semana.
Que Nossa Senhora e São José nos ajudem a libertar deste medo de incomodar. E que Jesus nos aprofunde sempre cada vez mais neste mistério de amor, relação e diálogo da Santíssima Trindade.
José de Barcelos
Domingo XXIX do Tempo Comum [Ano C]


