Neste domingo, no qual se celebrou a Exaltação da Santa Cruz, Jesus diz-nos no Evangelho:
«Assim como Moisés levantou a serpente no deserto, do mesmo modo é preciso que o Filho do Homem seja levantado. Assim, todo aquele que n’Ele acreditar, n’Ele terá a vida eterna» (Jo 3, 14-15).
Para onde é que os nossos olhos estão a apontar ao longo do dia? Alguma vez, durante o dia, levantamos o nosso rosto para o Céu e nos lembramos de que a nossa verdadeira pátria é celeste? De que estamos aqui de passagem?
Assim como Jesus foi levantado, assim também nós devemos levantar o nosso rosto para observá-l’O. E o que veremos é um Deus crucificado por nosso amor.
Escreve Santo Agostinho: «Queres saber o teu valor? Olha para a Cruz, tu vales um Deus crucificado».
Precisamos de saber que somos infinitamente amados. Caso contrário, tornar-nos-emos num poço fundo de tristezas, carências e doenças.
Quantas pessoas hoje não vivem com depressão e ansiedade provocadas pelo desamor? Procuram nos psicólogos e nos psiquiatras uma resposta para o vazio interno que sentem e nunca se sentem verdadeiramente satisfeitas com as respostas que a Ciência lhes dá.
Isso porque os antidepressivos jamais lhes poderão dar o que só Deus pode dar: o Seu amor eterno que dá sentido às nossas vidas. Pois nós viemos do amor, estamos no amor e voltaremos para o amor, como ensinou Jesus a uma mística. Esta é a origem da nossa existência, mas também é o nosso percurso e a nossa finalidade. E a forma mais abundante de nos abastecermos do Amor, é através da Santíssima Eucaristia. Pois «Deus é Amor» (1 João).
Somos feitos para dar e receber amor, mas nós só poderemos dá-lo caso primeiro nos permitamos recebê-lo. Jesus é a fonte da Caridade. É Ele quem a pratica através de nós. E só assim seremos felizes. Quando nos permitirmos ser unidos a Ele a ponto de nos tornarmos inseparáveis.
É necessário levantar o rosto da poeira onde nos sentamos a esmorecer e contemplar as estrelas no Céu. Permitir que a sua luminosidade nos recorde de que também nós nascemos para irradiar Luz. A Luz de Deus que habita em nós.
Portanto, para finalizar gostaria de partilhar um excerto da Encíclica ‘Lumen Fidei’ (A Luz da Fé) do Papa Francisco:
«Martin Buber citava esta definição da idolatria, dada pelo rabino de Kock: há idolatria, “quando um rosto se dirige reverente a um que não é rosto”. Em vez da fé em Deus, prefere-se adorar o ídolo, cujo rosto se pode fixar e cuja origem é conhecida, porque foi feito por nós. Diante do ídolo, não se corre o risco de uma possível chamada que nos faça sair das próprias seguranças, porque os ídolos “têm boca, mas não falam” (Salmo 15,5). Compreende-se assim que o ídolo é um pretexto para se colocar a si mesmo no centro da realidade, na adoração da obra das próprias mãos. Perdida a orientação fundamental que dá unidade à sua existência, o homem dispersa-se na multiplicidade dos seus desejos; negando-se a esperar o tempo da promessa, desintegra-se nos mil instantes da sua história. Por isso, a idolatria é sempre politeísmo, movimento sem meta de um senhor para outro. A idolatria não oferece um caminho, mas uma multiplicidade de veredas que não conduzem a uma meta certa, antes se configuram como um labirinto. Quem não se quer confiar a Deus, deve ouvir as vozes dos muitos ídolos que lhe gritam: “Confia-te a mim!” A fé, enquanto ligada à conversão, é o contrário da idolatria: é separação dos ídolos para voltar ao Deus vivo, através de um encontro pessoal” (Cap. 1, 13).
E assim, volto à questão do início: Para onde é que os nossos olhos estão a apontar ao longo do dia? O que é que nós colocamos no nosso interior que nos impede de levantar o rosto? Qual mágoa, qual rancor, qual desconfiança?
É preciso rasgarmo-nos diante do Deus Vivo e Lhe oferecermos as nossas feridas para que Ele as cure através das Suas Santas Chagas. Também o nosso Deus é um Deus ferido. Não precisamos de ter vergonha se nos sentirmos com dor, tristeza, desilusão e talvez até vontade de morrer. O suicídio é um pensamento que atravessa a mente de muitos.
Talvez porque ninguém ainda lhes tenha segurado no rosto, enxugado as lágrimas e dito: «Queres saber o teu valor? Olha para a Cruz, tu vales um Deus crucificado».
Levanta o rosto e não desistas. Tu és infinitamente amado por Deus. Tu foste feito para a vida. E a Vida Eterna.
Que Nossa Senhora e São José nos ajudem a levantar o rosto para a Cruz e nos confortem com o seu amor maternal e paternal. E que ambos nos ajudem a abraçar Jesus crucificado, colocando as nossas feridas sobre as Suas, para sermos curados pelo amor misericordioso e inesgotável da Santíssima Trindade.
Jesus, eu confio em Vós.
José de Barcelos
Festa da Exaltação da Santa Cruz