Verbos da Palavra

Esconder

Jesus diz-nos no Evangelho deste domingo que o Pai escondeu algumas coisas e revelou-as aos pequeninos.

Mas e nós, o que nós temos escondido de Deus? E o que é que na nossa caminhada espiritual nos tem impedido de ser pequeninos?

Às vezes, sinto que chamar Jesus de Senhor nos intimida. Isso porque temos noções muito más e tirânicas de senhorios.

Imaginamos Jesus como um patrão na ala superior de uma fábrica que nos observa pelo vidro da janela do escritório. Na mão tem um bloco de notas onde anota cada um dos nossos erros e olha-nos severo. Pensamos que a qualquer momento Ele vai humilhar-nos à frente de todos os outros funcionários dizendo: «estás despedido! Rua!».

Mas imaginemos uma criança que vê um cãozinho ou um gatinho abandonados na rua, à chuva e à beira da lixeira. A criança quer ser sua dona. Quer adotar o gato e dar-lhe banho, alimentá-lo com comida quente e encher-lhe de mimos e beijinhos, quer brincar com o gato e devolver-lhe a dignidade e a alegria de viver. Isso para mim é o verdadeiro senhorio de Jesus, ser dono por amor, porque quer cuidar de nós, pois está cheio de compaixão.

No início da Carta aos Hebreus, São Paulo escreve: «O Filho é a irradiação da sua glória e n’Ele Deus exprimiu-Se tal como é em Si mesmo. O Filho, pela sua Palavra poderosa, é Aquele que mantém o Universo. Depois de realizar a purificação dos pecados, sentou-Se à direita da Majestade de Deus nas alturas» (1:3).

Ah, como nos custa imaginar este momento como um momento de amor: ver o Filho sentar-Se ao lado do Pai. É tanta majestade, glória e poder que até nos sentimos ofuscados e acabrunhados. E, no entanto, esquecemo-nos de que no Filho estamos nós, pois Jesus é a Cabeça e nós parte do Seu Corpo Místico. Não é?

Temos medo de nos sentar ao lado do Pai? Queremos esconder-nos d’Ele?

Um pai carinhoso senta-se junto ao rio no outono a pescar. O seu filhinho disperso fica a saltitar por entre a vegetação a caçar borboletas. E o pai diz-lhe: «anda cá, meu amor, senta-te ao meu lado. Queres segurar na cana enquanto eu seguro na tua mãozinha?». Os dois, pai e filho, ficam encostados lado a lado a passar um bom momento. Pois o amor quer proximidade e afeto.

Assim quer Deus estar connosco.

Que Nossa Senhora e São José nos ajudem a não nos escondermos de Jesus com medo. E que Ele, com toda a docilidade, nos faça penetrar cada vez mais neste mistério de ternura que é o da Santíssima Trindade.

José de Barcelos
Comemoração de Todos os Fiéis Defuntos