Em cada 15 de outubro, quando abrimos as Escrituras, a Liturgia da Palavra oferece-nos a preciosa página evangélica do encontro de Jesus com a Samaritana (Jo 4,5-12). Santa Teresa era apaixonada por esta passagem do Evangelho. Várias vezes recorre a ela para nos falar da oração e da amizade com Deus.
Desta passagem, há um verbo que nos salta imediatamente à vista: beber.
Contemplamos em cena Jesus que se aproxima fatigado – como nos diz o evangelista – de um poço em Sicar, na Samaria. Tinha de lá passar, vinca o texto. Teria mesmo? Parece que Jesus deu uma grande volta de propósito para passar por terra estrangeira e inimiga dos judeus.
Aproxima-se do poço uma samaritana, que trazia um cântaro para recolher água. Ao ver Jesus, não se atreve a saudá-lo, pois era judeu. Para surpresa desta mulher, Jesus pede-lhe: «Dá-me de beber». Que força tem este pedido… O Filho de Deus feito homem a pedir de beber a uma mulher samaritana! Mais tarde, do alto da cruz, o mesmo Jesus exclamaria: «Tenho sede».
A sede de Jesus não é uma sede de água, mas do nosso coração. Teresa de Jesus percebeu muito bem isso. Jesus tinha sede da sua companhia, da sua amizade, das suas palavras, enfim, do seu coração. Ao descobrir isso, a vida de Teresa muda radicalmente e inicia uma aventura que a levará pelo castelo interior da sua alma à morada mais secreta onde Deus a esperava desde sempre.
Jesus tem sede também do nosso coração e diz-nos também a cada um de nós: «Dá-me de beber», sacia a minha sede de ti. A sede de Jesus desperta a nossa sede. Reconhecemos que temos sede, que nos falta plenitude às nossas vidas, por vezes, tão dispersas e desidratadas.
Se conhecêssemos o dom de Deus… O dom maior de Deus é o seu Filho e o seu Espírito. Só bebe aquele que reconhece a sua sede. E se reconhecermos a nossa sede e pedirmos a Jesus que a sacie, ele dar-nos-á água viva, como confessou à Samaritana. Se bebermos da água que só Jesus nos pode dar, jamais teremos sede e a água que Ele nos der tornar-se-á em fonte que jorra para a vida eterna.
Por quantas fontes andamos nós a beber? Andamos perdidos em tantas fontes que não nos matam a sede, antes a aumentam. O convite de Jesus – e o de Teresa – é claro: beber de Jesus, aquela eterna fonte de onde brota a água viva.
O mundo está sedento. Teresa, no século XVI, afirmou que o mundo ardia por causa da sua sede. A sede permanece, pois o desejo de infinito só se realiza em Deus. Em tempos récios, amigos fortes de Deus. Quem o diz é a Santa Madre. Os amigos fortes de Deus são os que abrem as mãos e bebem da água que brota do coração de Jesus. Apesar dos caminhos candentes de Espanha e dos dias cálidos, a mística abulense não tinha sede, pois saciava-se apenas em Jesus.
É tempo de caminhar! É tempo de deixarmos as fontezinhas por onde nos entretemos e irmos todos ao poço de Jesus, amigo e companheiro, sentarmo-nos junto d’Ele, bebermos das Suas palavras e dos Seus gestos e, assim, adorarmos a Deus em espírito e verdade.
Que Santa Teresa de Jesus, nossa mãe, nos anime nesta aventura e nos continue também ela a dar de beber pela sua vida e pela sua obra.
Francisco Maria de São José
Solenidade de Santa Teresa de Jesus
15 de outubro de 2022