30 Dias Com Frei Francisco Maria

Orar 30 Dias com Frei Francisco Maria | 22

Vocação, consagração, entrega definitiva

Que sentido pode ter hoje a vida religiosa? A pergunta não é nova e as respostas, desde as mais teológicas às mais pastorais, abundam. Não é por falta de diagnóstico ou de propostas de solução que há crise na Igreja.
Começando por aqui. A Igreja está em crise. A vida religiosa está em crise. Um bom diagnóstico está no mais recente livro de Thomas Halik: “A tarde do Cristianismo”. Não vale a pena dissecar mais as maleitas do paciente.
A vida religiosa padece dos mesmos males daqueles descritos por este autor. Destaco dois: a mediocridade como satisfação e a segurança proporcionada por uma vida regrada e estável. Esta mediocridade pode também expressar-se por uma visão apostólica próxima daqueles a quem um autor chamou, exageradamente é certo, como título de um livro “Os funcionários de Deus”. Estes não são más pessoas, são esforçados, por vezes até à exaustão. Mas aquilo que lhes sobra em “ativismo”, como se diz no jargão da vida religiosa, falta-lhes em incandescência por contacto com o divino. Este é para mim o maior desafio à vida religiosa sem o qual não há sal nem luz: arderem como círios, serem sem medo os “loucos por Cristo”. Fora disto não são nada. Podem ser simpáticos, prestáveis, pregar de forma consoladora, mas falta o sal, falta luz.
Outro problema, muito profundo na Igreja e assinalado pelo papa Francisco, é a autorreferencialidade. A Igreja acha que o seu discurso, a sua linguagem e as suas mediações são entendidas pelo “mundo”. Está a falar numa praça cheia de gente, mas quem a ouve crê tratar-se de uma língua estrangeira. O barco afunda e discutimos como limpar o convés.
E, no entanto, nós, os que andamos pelas estradas do mundo, nós os desamparados e dessossegados precisamos da vida religiosa. Precisamos de ver comunidades que vivem de forma bela e alegre, com estilos bem alternativos face a estes modelos individualistas e solipsistas. Precisamos de religiosos alegres, melhor ainda, embriagados de alegria, amando a beleza do mundo, chorando as suas chagas. Precisamos que nos tragam uma palavra de consolação e de paz, precisamos do seu olhar sereno e pleno de confiança. Mas para isso, precisam primeiro de combater com Deus, noite adentro, como o fez o Patriarca.

Pedro Martins
Professor
Porto, 19 de dezembro de 2022

A tarde vai caindo,
anunciando o final de mais um ciclo.
A noite que se aproxima apresenta-se serena,
não querendo impor a sua presença.
Percorremos os caminhos com lama e flores,
desanimados e sem esperança,
e eis que surges Tu e te juntas a nós.
Ah! Como arde cá dentro o coração…
Apenas Te peço que nunca nos deixes,
mesmo que vás a dormir ou não Te consiga ver.
Faz arder em mim o Teu amor
para que enlouqueça cada vez mais por Ti.
Dá-me a beber o vinho inebriante da Tua alegria
para que os meus lábios e as minhas mãos
sejam artesãos da fé, da esperança e do amor.
Não imagino os passos do meu existir sem Ti.
“Fica connosco, Senhor, porque anoitece”.

Em os 30 Dias com Frei Francisco Maria pretende-se criar um lugar de reflexão e oração para e com o Frei Francisco Maria que, no dia 28 de janeiro de 2023, fará a sua Profissão Solene.
Cada dia, acompanhado por um rosto e um texto concretos, o Frei Francisco Maria fará a sua preparação espiritual para a sua entrega definitiva ao Senhor.
Acompanhado por tantas pessoas, rezará por cada uma e por cada um, de forma a todos incluir nesta caminhada rumo à sua consagração definitiva no Carmelo Descalço.

1 thought on “Orar 30 Dias com Frei Francisco Maria | 22”

  1. Rezo par que sim …cada vez mais Deus faça fluir religiosos alegres…que amem a beleza das belezas…

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