Depois de termos escutado a introdução do Sermão da Montanha, composto pelas bem-aventuranças e pelas metáforas do sal e da luz, hoje somos convidados a entrar mais adentro na espessura da proposta de Jesus.
O Evangelho de hoje (Mt 5, 17-37) quer desinstalar-nos. Convida-nos a uma atitude, a superar: «Se a vossa justiça não superar a dos escribas e fariseus, não entrareis no reino dos Céus». Jesus convida os seus interlocutores a dar um salto ousado na prática da fé, ou seja, passar do legalismo ao amor.
A nossa justiça, isto é, a nossa conversão a Deus tem de superar os fariseus de então e de hoje. Que poderemos ainda hoje superar? Talvez, os padrões estabelecidos pela sociedade em que vivemos, as práticas “tradicionais” e obsoletas de uma Igreja que necessita de viver em constante conversão ou ainda superar as nossas “crendices” daquilo que nos parece ser o perfil ideal do cristão, tantas vezes adaptado ao nosso comodismo.
Jesus não veio revogar ou anular a Lei, mas completá-la, levá-la ao extremo. O Mestre convida-nos a reescrevermos a letra da Lei com a tinta do amor. Não basta sermos “bons cristãos de sacristia”, cumprindo normas e preceitos. Isso é importante, sem dúvida, mas o mandamento do amor não pode encerrar-se num belo substantivo. É necessário converter-se em ação, ou seja, em verbo: amar. Amemos, pois, com a ousadia do Verbo incarnado, e superemo-nos na aventura de sermos discípulos – bem amados – do Senhor.
Francisco Maria de São José
Domingo VI do Tempo Comum [Ano A]
12 de fevereiro de 2023