Verbos da Palavra

Perseverar

Aproximamo-nos do fim do ano litúrgico. E ao lermos a página do Evangelho deste domingo (Lc 21, 5-19) parece que nos aproximamos do fim do mundo.
A cena começa no templo, onde vários estavam a contemplar a beleza do sagrado edifício. Quantas vezes não paramos também nós diante de monumentos, autênticas odes à beleza, sem pararmos para pensarmos que tudo passará? Jesus recorda os seus contemporâneos disso mesmo: «Dias virão em que, de tudo o que estais a ver, não ficará pedra sobre pedra: tudo será destruído».
Penso que o ser humano devora tudo o que são teorias sobre o fim do mundo, cenários apocalípticos, segredos de certas aparições marianas… Não sei porquê, mas a verdade é que estes temas vendem livros – basta passarmos por uma qualquer livraria – e têm muitíssimos seguidores.
Também aquele auditório que ouviu a afirmação de Jesus se começou a interessar de imediato pelo tema. E questiona-O: «Mestre, quando sucederá isto? Que sinal haverá de que está para acontecer?». Outra tentação em que tantas vezes caímos: Quando será o fim do mundo? O que o anunciará?
Jesus descansa-nos. Apesar de todos os fenómenos extraordinários que possamos assistir – e alguns vivemo-los hoje – o Mestre não nos revela datas nem sinais. Jesus pacifica os seus ouvintes com uma boa e necessária dose de realismo.
Os cenários deste mundo são sempre difíceis. Estamos condenados à nossa fragilidade e à fragilidade dos nossos irmãos. Por isso, não nos faltarão perseguições, problemas, surpresas inesperadas que nos trocam as voltas à vida. E Jesus o que é que faz? Faz descansar o nosso coração atormentado por estas incertezas e dificuldades: «Mas nenhum cabelo da vossa cabeça se perderá».
Que beleza… Mais belo que todas as obras de arte do mundo inteiro é saber que somos olhados com tanto amor e carinho pelo nossos Deus. É um Deus que cuida, até dos nossos cabelos – mesmo daqueles que já não os têm.
É verdade que os tempos que hoje vivemos são desafiantes e marcados por tantas coisas que não sabemos bem o que fazer. Jesus não nos revela o dia nem a hora. Recomenda-nos, sim, a atitude necessária para viver estas contingências: perseverar. Confessa-nos o Senhor que «pela vossa perseverança salvareis as vossas almas».
Afinal, não devemos perder o tempo em tantas coisas que nos dispersam do essencial. Perseverar significa ter o coração ancorado em Jesus e na sua Palavra. A perseverança, como nos relata a tradição espiritual cristã, é uma atitude imprescindível na vida dos crentes. Perseveremos, pois, com determinada determinação – como dizia Santa Teresa de Jesus – no propósito de seguir fielmente o Mestre para que, quando chegar o fim, não sejamos apanhados de surpresa. Afinal, não importa os cabelos que vamos perdendo ao longo dos anos. Nenhum deles se perderá.

Francisco Maria de São José
Domingo XXXIII do Tempo Comum [Ano C]
13 de novembro de 2022