1. Se em engano não lavro, faltam agora mesmo, seis minutos para a meia noite. Desculpem, não me engano, não — é o Relógio do Fim do Mundo quem o diz. O Relógio do Fim do Mundo é um relógio simbólico criado pela Universidade de Chicago no ano de 1947, logo após a deflagração das bombas atómicas sobre a cidade de Hiroshima e a cidade de Nagasaki. Foi iniciado com os ponteiros aos sete minutos para a meia-noite, sendo que a meia-noite significa a destruição do nosso planeta. Entretanto, no ano de 2010, o relógio avançou um minuto, recordando-nos que ficamos ainda mais perto do fim. E não é de enjeitar que este terrífico ano de 2022 dali ainda mais nos tenha aproximado…
2. O real perigo de uma Guerra Nuclear, as alterações climáticas e os riscos inerentes às novas tecnologias são apenas três dos grandes perigos que pendem hoje sobre a Humanidade. Mas eles são mais, sim; pelo que, de acordo com o recrudescer das tensões, ou o seu aliviar, os minutos adiantam-se ou atrasam-se.
3. Diz-se que o mundo e as vitórias no mundo são dos céticos; e talvez sejam; eu, porém, quero-me a rezar pelos jovens, em idade e na firmeza de alma, para que diante de nós sejam capazes de alçar bem alto a bandeira da esperança: «Meu Deus, dá-nos jovens ardentes, dá-nos, ao menos, três jovens ardentes, bem mais ardentes que o fogo que se propõe destruir-nos! Noite e dia, dá-nos, Senhor, jovens abrasados pelo teu Fogo Santo!».
4. E para jamais me render aos céticos, realista para sempre eu seja, para melhor ver e, quem sabe, um pouco me aquecer, aproximo-me da Luz que eles portam. — Há anos que fechei a televisão, mas é impossível não sofrer com os noticiários que desta ou daquela forma me assediam e assustam: Guerra na Ucrânia, Insurgência no Myanmar, Guerra Civil no Iémen, e outras menos mediáticas: Guerra do Tigré, na Eritreia, no Sudão; e outras muitas. E a estas junte-se a crise da inflação galopante, as sucessivas ondas da covid, as injustiças e conflitos sociais, a sensação do aumento de insegurança, dos roubos e dos crimes contra mulheres e crianças…; e como se tudo isto fora pouco, ferem-nos ainda os frios jorros de notícias de tornados, furacões, tufões, e vulcões que cospem fogo e cinzas, de montanhas que se esbarroncam e matam, e glaciares que desaparecem como o nevoeiro da manhã e, em certos lugares, a subida dos níveis da água, afogando, implacável, terras e rebanhos, património e estilos de vida…
5. Pensando bem, penso eu muitas vezes, é melhor não pensar nisto, e andar para a frente. — Tarefa cruel, digo. — E é que ainda há pior notícia que estas: quando me cai a ficha, dou comigo a pensar que, não sei nem quando nem como, também eu tenho um fim à minha espera, pois tenho de morrer. E fico mudo, e se, inteiro, mudo não me ficar, rezo para que o fim se me achegue em bendita misericórdia…
6. Como algures já deixei dito não visitei muitos países, nem tenho sede de mais. Quem por esse mundo já foi em modo turismo, e antecipadamente se dedicou a ler roteiros turísticos, impossível não ter reparado, e depois visitado, os ex-libris das cidades. Entre todos eles os que mais me surpreendem nem são os edifícios majestosos e belos, mas as ruínas. — E eis que reparo: uma sede tenho eu: visitar Jericó, a cidade reconstruída pelo menos sete vezes ao longo da sua história! E enquanto não puder subir às de Jericó, irei às das Carvalheiras, na minha cidade…
Como são espantosas as ruínas! E com que orgulho e exultação as preservamos!
E quão demasiadas vezes nos dedicamos a contemplar ruínas? De Alcântara (Brasil) a Micenas (Grécia) de Machu Picchu (Peru) a Angakor (Cambodja) que vemos nós, senão ruínas e mais ruínas?
Ruínas!
Tudo passa, tudo muda, tudo se acaba!
Quão rápido se acabam as glórias do mundo! E como tanto se espantam os nossos olhos com os restos de pó das vanglórias alheias!
7. Por estes dias, a natureza exibe-nos a sua face mais mortiça e decadente. Até há pouco carregadas de viço, de vida e de frutos, as árvores chovem-nos largos tapetes de folhas de mil cores. Tudo cai por terra — impossível não lembrar ao contemplar as árvores nuas!
8. Tudo cai, tudo daqui se esvai.
Neste domingo, dentro de portas, a Igreja comunica-nos notícias do fim do mundo; afinal, Jesus alertou-nos para isso, e convém não nos adormilarmos. Eis que o fim se achega, mas não entremos em desespero porque nós não seguimos nem as palavras dos Maias, nem as de Nostradamus, ou de outros quaisquer visionários! Nós seguimos as palavras de Jesus, e estas são boas e sãs, porque são Boa Nova do homem das boas notícias. Alerta, sim, mas cuidado, porque ainda que o mundo se acabe, nós não sabemos se tal virá a ser dentro de seis minutos ou de seis biliões de anos.
9. Coragem e confiança, pois nem um só cabelo cairá da nossa cabeça sem licença do Senhor. Coragem e confiança! Entretanto, comamos, trabalhemos, divirtamo-nos e descansemos, que a seu tempo dormiremos, que o morrer cristão se diz: «dormir no Senhor»! E n’Ele depois despertaremos, porque o amor é mais forte que a morte, e a porta que nos abre para Deus é Ele-mesmo, enquanto tudo para todos!
Ámen.
Frei João Costa
.carmo | nº 215 | novembro 13 2022