Ponto Carmo

Rezar e aprender os Mistérios de Cristo

1. Se o domingo é para nós, um dia feliz – é-o sempre, claro! – Este é-o ainda mais ou, talvez melhor, por que tirando-nos do rame-rame habitual, é-o mais claramente. Entre nós, teremos, neste domingo, o Senhor Arcebispo D. José Manuel Cordeiro, que nos visita em clave de oração e amizade. Agradecendo-lhe o estímulo da sua visita, a sua bênção e oração por nós, e connosco, estabelecemos aqui as coordenadas dos nossos braços e corações abertos para o receber.
Ele sabe que o estimamos, nós sabemo-nos estimados por Ele.

2. «CUIDA BEM DELE»
Por proximidade temporal, este VI domingo comum é o Domingo do Doente. Dos nossos corações e do coração dos nossos bispos também subirão preces ao céu pelos nossos doentes.
Quero, porém, recordar aqui a Carta do Papa Francisco para este XXXI Dia Mundial do Doente. Trazendo-os para o terreiro da nossa oração, o Papa recorda a parábola do Bom Samaritano, e intitula esta Carta com a advertência que o Samaritano faz ao estalajadeiro, quando lhe entrega o enfermo – «Cuida bem dele». Um doente é alguém que não se pode valer, não se pode cuidar a si mesmo.
Jamais fique longe de nós algum doente; jamais algum doente atravesse sozinho a longa noite escura da doença, do isolamento e da solidão. Não é justo nem tão-pouco humano que abandonemos os doentes e cada um vá para as suas coisas. Se nos esquecermos dos doentes como quem espera que «eles se arranjem!», não seremos humanos. Seremos até muito indignos!
O Dia Mundial do Doente é para rezarmos pelos doentes (ou pela sua cura, ou para que se amenizem os seus sofrimentos) e é também para lembrar que a doença do outro (e já não digamos a nossa!, porque também chegará, também chegará…) é uma oportunidade para caminharmos mais devagar; isto é, a doença de alguém, próximo ou não, urge-nos que, caminhando até ele, dele nos abeiremos, que olhemos para ele, com ele rezemos, lhe demos a mão, o ouçamos nas suas dúvidas, temores, incertezas.
É certo que um doente é um peso pelos cuidados que haja de se lhe prestar, mas na sua fragilidade é também um companheiro de caminho que nos faz pensar na nossa comum condição frágil de quem caminha ao encontro do seu Senhor.
Um doente, cada a um em sua dolência e em seu carácter ferido, é uma pessoa que nos convida a não termos pressa, mas a mais e mais aprofundarmos a gentileza e a cuidarmos bem dele, com compaixão, paciência, atenção e carinho, isto é, a aprofundar a sua dignidade de ser humano.
Que assim seja.

3. VISITA DO SENHOR D. JOSÉ CORDEIRO
Celebraremos no próximo dia 3 de março de 2023, os sessenta anos do regresso dos Carmelitas Descalços a este nosso lar que é a Igreja do Carmo de Braga. Impedido de celebrar connosco essa data (ou outra mais próxima), o Senhor D. José Manuel Cordeiro sobe, hoje, connosco, ao Carmo para rezar connosco em acção de graças essa data tão feliz.
Deus seja louvado!
Em boa hora venha o nosso bispo, mas o que, antecipadamente, mais lhe agradecemos é que no seu coração de bispo nos traga e guarde a nós, e a tantos outros, pois jamais o queremos ver a rezar e caminhar sozinho!
Não caminhará jamais sozinho! Não caminhamos, nós, sabemo-lo bem, sozinhos!
Senhor Dom José, seja, pois, muito bem-vindo! Aqui não estará só, que jamais o deixaremos só; caminharemos consigo, e com o povo de Deus desta Igreja de Braga, alumbrados pela luz do seu coração que mora e descansa no coração amoroso do Bom Pastor.
Dizia Santa Teresa que para rezar, «o essencial não é pensar muito, mas amar muito». Aqui nos tem, Dom José, a nós, Carmelitas Descalços, prontos e animados par rezar, sob o olhar amoroso do Pai das Misericórdias. Não somos nem artistas, nem poetas ou cantores, mas tão-só um pequenino redil, cujo gosto e honra é rezar pela grande porção do rebanho da Arquidiocese de Braga. Saiba que, desde junto do olhar da Senhora do Carmo, costumamos erguer os nossos corações para Deus que nos olha com amor e misericórdia, e infinita paciência. Daqui, pois, leve um certeza, Dom José, o Carmo também se ajoelha e também ergue as mãos para rezar; e mais que por si, pelos outros: os doentes e os frágeis, e pelos meninos a quem tanto é preciso semear a esperança do Evangelho; pelas famílias generosas e aguerridas, e pelas que andam feridas e desvalidas; aqui rezamos pelos jovens sonhadores e pelos que vivem sem expectativas e sem esperança; pelos que triunfam e pelos que, dia em pós dia, perdem e se sentem humilhados, sem alegria e sem reconhecimento; aqui rezamos pela paz e pelas vocações; pelos que governam e pelos que clamam por progresso e por dignidade humana.
E rezamos por Si, e pelos nossos bispos, para que no meio de nós sejam valentes e apaixonados pela fidelidade do «sempre, sempre, sempre», e nos mostrem quão fecundo é um «coração apaixonado».
Senhor Dom José sabemos ainda que não sabemos nem muito nem tudo; estamos, simplesmente, disponíveis para amar esta nossa Igreja de Braga como em outro tempo, antes de nós, a amaram e serviram os nossos Irmãos Carmelitas Descalços, e entre eles, mas não o menor deles, o venerável Santo Fradinho do Carmo, Frei João d’Ascensão. Que do céu ele interceda por todos nós e connosco. Sim, de facto, não sabemos tudo, mas abrimos o coração, para consigo, aprendermos a viver os Mistérios de Cristo!

Frei João Costa
.carmo | nº 228 | fevereiro 12 2023