José…
Caríssimo Frei Francisco Maria de São José,
Em primeiro lugar, peço desculpas pelo meu atraso. Há muito que queria escrever-lhe um pequeno texto, mas não me foi possível. Creio que ainda vou a tempo de felicitá-lo pela sua profissão solene, cuja data se aproxima. Gostaria também de lhe deixar algumas palavras sobre a impressão que me causa esse acontecimento, e sobre si.
A vida religiosa é um dos maiores tesouros da Igreja. É composto por numerosas e variadas jóias, por ser toda ela dedicada à maior glória de Deus, ao serviço da Igreja e, fora dela, a todos os que ainda não conheceram Cristo ou se desviaram da Sua luz, procurando alcançar a sua conversão e, assim, a salvação das suas almas.
A Ordem dos Irmãos de Nossa Senhora do Monte Carmelo Descalço é também um dos maiores tesouros da Igreja. Nela se encontram caminhos espirituais riquíssimos, como os de Deus abriu nas vidas de Santa Teresa de Jesus, de São João da Cruz, de Santa Teresa do Menino Jesus, de Santa Teresa Benedita da Cruz e de muitos outros. De facto, nela ingressou uma miríade de homens e mulheres que, pelos séculos, foram capazes de se entregar a Deus, procurando viver na fidelidade à Tradição, às Escrituras e ao Magistério da Igreja. Imagino que muitos mais carmelitas haverá no Céu, além daqueles que foram elevados à honra dos altares e que por nós são mais conhecidos.
A sua opção pela vida religiosa é admirável e também é admirável a sua escolha do Carmelo Descalço entre as famílias religiosas que a Igreja tem. Bem-haja, Frei Francisco Maria de São José. Dou graças a Deus porque o vejo tomar estas decisões tão sérias de modo sereno e lúcido, longe de qualquer euforia juvenil e das folias gerais do mundo que, penetrando até no seio da Igreja, tudo pertubam e precipitam.
Sei, pelo que conversámos e pelo que também pude observar, que é uma pessoa de oração, silêncio e estudo. Em parte, daqui virá a sua postura neste momento tão importante. A outra parte – na verdade, tudo, tudo! – vem de Deus, que o chamou a Si e que o sustenta e sustentará nas horas de alegria e nos tempos adversos. Porque Nosso Senhor nunca nos falta. Alimenta-nos com a Sua Misericórdia, sobretudo nas tribulações. A vida religiosa não é, por certo, cómoda, nem fácil. Não lhe faltará Nosso Senhor, nem Sua Mãe, Nossa Senhora, nem São José, cujo nome tomou para título de devoção.
Uma vez mais lhe peço que não abandone o seu belo nome de profissão, indo, assim, contra a lamentável moda que tem abrangido muitos religiosos e religiosas. Vejo que muitos optam por usar os seus nomes civis, nos seus conventos e fora deles, nomeadamente no meio académico. Para que, afinal, tomaram um novo nome ao professar? Não foi para o seu uso regular? Faça-o, suplico-lhe, sem assombro e com a aquela mesma devoção com que o escolheu. Lembre-se que a imitação de São José é um caminho de santidade muito seguro, tanto para um pai de família, como é o meu caso, como para um padre, como será o seu. Na verdade, para todos os baptizados.
São José sofreu a desilusão, a humilhação, o medo e a incerteza, mas, cheio de fé, obedeceu ao que Nosso Senhor lhe ordenou, através do Anjo. Fê-lo humildemente, sem ruído, vaidade ou delírios de grandeza. Quando hoje olhamos um presépio ou outra imagem da Sagrada Família, São José continua a ser a mais discreta das figuras, geralmente trajada de castanho – como o hábito carmelita – ou de outras cores austeras. No entanto, depois de Nossa Senhora e de São João Baptista, é o mais glorioso dos santos. São José sustentou a boca do Próprio Deus, que Se fez seu Filho adoptivo, criando-O como Verdadeiro Homem, como Justo e Piedoso cumpridor da Lei de Deus. O Menino Jesus foi-Lhe submisso, assim assegura o Evangelho, o que nos confirma que, mais que glorioso, como gosto de dizer, é um gloriosíssimo santo!
Que o gloriosíssimo São José o guarde sempre e que interceda pela alma do seu pai e ampare a sua mãe, os seus parentes, amigos e benfeitores. Que o gloriosíssimo São José auxilie a sua Ordem, que tanta devoção lhe tem, e toda a Igreja.
Peço-lhe que continue a rezar por mim e pela minha família. Prometo-lhe que continuarei a rezar por si. Receba um grande abraço do seu muito amigo.
José
Lisboa, Epifania do Senhor de 2023
Pronuncias o meu nome desde toda a eternidade,
antes de ser concebido no seio materno,
já era sonhado por Ti.
A voz que me seduz,
me chama,
me consola,
me inquieta,
me desinstala,
me purifica
e me ama
és Tu.
Pelo nome novo que me deste,
continuas a atrair-me para o Teu Coração.
Seja eu vaso novo em Tuas mãos,
cantor do cântico novo
e arauto dos tempos novos,
no silêncio e na oração
como José.
Ámen.
Em os 30 Dias com Frei Francisco Maria pretende-se criar um lugar de reflexão e oração para e com o Frei Francisco Maria que, no dia 28 de janeiro de 2023, fará a sua Profissão Solene.
Cada dia, acompanhado por um rosto e um texto concretos, o Frei Francisco Maria fará a sua preparação espiritual para a sua entrega definitiva ao Senhor.
Acompanhado por tantas pessoas, rezará por cada uma e por cada um, de forma a todos incluir nesta caminhada rumo à sua consagração definitiva no Carmelo Descalço.