1. Com as vésperas deste domingo, 2 de dezembro, começamos um novo um novo ano litúrgico. Bem-vindos sejamos, pois, todos ao caminho com Deus. Estamos de novo enCaminho; reencaminhados somos sempre, mundo fora, seguindo os passos de Jesus que nos encaminham para o Seu coração. Para escrever este texto (e para preparar a meditação da Jornada com Deus deste início de Advento) peguei na Mensagem de Advento-Natal dos nossos bispos de Braga com a qual nos convidam a caminhar em direcção aos presépios de hoje. Se ontem todos couberam – dizem eles – na gruta de Belém, hoje, também todos caberemos no presépio mais pequenino que por aí haja. Vamos lá, pois.
2. A Mensagem de D. José Manuel Cordeiro e D. Delfim Gomes intitula-se «Todos enCaminho» e dirige-se a toda a Arquidiocese de Braga. A todos é mesmo a todos e a todas, sabemo-lo bem.
EnCaminho significa, a meu ver, duas coisas: i) Que todos estamos (sabedores o sejamos, ou não) em caminho, isto é, movendo-nos em direção à Luz do presépio, em direção ao coração de Deus; ii) e pode significar também que todos estamos encaminhados por Deus; isto é, sem nos forçar, o apelo de Deus chama-nos porque deseja tirar-nos do efémero e atrair-nos para o eterno.
3. É assim que os nossos Bispos incendeiam em nós a ânsia própria dos peregrinos, dos que não ficam sentados, mas mais ainda, dos que se recusam a caminhar sozinhos, e por isso aceitam crescer dando as mãos, e a seguir em frente. Sim, tocaram-me as suas palavras quando nos disseram que não podemos ficar passivos, apáticos, adormilados, indiferentes ou defensivos; e que cada um deve cuidar responder à pergunta: — Então, o que devemos fazer?
Também eu deixei ribombar a pergunta em mim; e a resposta, ao menos em parte, é sair de mim. Vejamos para onde e por onde sair:
i) Esperar; mas saberemos esperar?
O tempo do Advento tem a marca da espera do Natal: «Vem, Senhor Jesus, vem depressa» é o grito da comunidade cristã que vive este tempo curto em modo espera. Estamos à espera talvez sem bem saber Quem esperar — e é tão-só a Personagem maior da nossa história! À espera como quem vigia, entre o preocupado e o interessado, entre o desejo e o desassossego, o horizonte escuro da caverna interior porque, agora, o Nascimento é em ti, no teu coração (e não é para ti, somente para ti, mas para que mais dês Luz ao mundo!). Vamos, pois, esperar, como quem apressa a Luz.
ii) Esperar também é preparar
Em alguns lugares diz-se que «o melhor da festa é esperar por ela», que é como quem diz: a espera e a preparação de um acontecimento são tão importantes como o acontecimento em si mesmo; isto é, esperar é preparar; o Advento é preparar a chegada de Jesus, o Salvador. Preparar em ânsias, como quem estivesse preso aguardando o dia da libertação! (Se soubesses que o dia libertador estaria a chegar, mas não qual seria ele, nem a que horas seria, tu sempre terias tudo pronto para sair e partir; se a tua libertação dependesse da chegada do carcereiro, tu aguardarias mais-que-preparadíssimo o rodar da chave porque, em abrindo-se, a porta poderia não tardar a fechar-se…) Esperar é preparar, ter tudo pronto para sair. Nos próximos dias correremos tanto para preparar A Ceia que muito seria de espantar que não nos preparemos para Aquele que vem, tanto no Natal como, glorioso, no fim dos tempos.
iii) Dizer NÃO à pressa
Lamentavelmente estes dias são de agitação e de pressa: como tanto corremos… Talvez esta devesse ser a nossa primeira decisão: não afogar o Advento na pressa e nas correrias pelos shoppings! Sinceramente julgo que deveríamos dar mais calma e sossego a este tempo de pressa e de pressão, de agitação e de canseiras. Dar mais tempo ao tempo de silêncio, ao repouso activo, ao tempo para dizer: Vem, Senhor Jesus!, e sentir que estas palavras calam e repousam lá dentro… Tempo para ler o Evangelho em casa (ao menos duas ou três vezes na semana…). Lê-lo individualmente, mas também reunir mais duas ou três pessoas e, juntos, perguntarmo-nos: que nos diz a Palavra? Como nos ajuda Ela, hoje, a apressar a vinda do Senhor?
iv) Ir ao presépio
Toda o lar católico tem o seu cantinho de oração, e neste tempo um espaço onde luz o presépio. Ainda que aquele só tenha a Sagrada Família, sabemos que ali couberam os animais e quantos lá quiseram ir — os pobres à frente de todos! Neste Advento vá ao presépio. Faça-se pobre e vá ao presépio do Pobre! Para dentro do presépio! Nunca os pobres destoam no presépio. Portanto, com ou sem coroa, vá até ao presépio mirar a presença de Deus no mundo, no meio de nós! Ah, mas sobretudo, visite um pobre em sua casa, que ali é o presépio! Não vire jamais a cara ao pobre, não mude de passeio quando o vir subir a rua ao seu encontro. Não tenha medo de lhe apertar a mão! (Mas se ainda não consegue visitar os presépios de hoje, lembre que existem muitas instituições que se solidarizam com os pobres e colabore com elas: leve-lhes cobertores de que não precisa, roupas quentes, fraldas, alimentos não perecíveis e fique certo ou certa de que eles os levarão, por si, aos presépios de hoje…)
v) Um caminho novo
E, sobretudo, devemos ousar preparar um caminho novo (que foi o que melhor fizeram os Magos depois de adorarem o Pobre ao colo da Mãe). Preparemos no Advento um caminho para o presépio que deve fazer-se novo (e de novo, repetidamente). Nesse caminho aprendamos a lembrar que Jesus nasceu pobre, levou uma vida simples e com ela nos ensinou a viver o essencial para nos identificarmos como os pobres. Sigamos juntos pelo caminho novo que leva à casa do pobre a fim de levarmos «Jesus a todos e todos a Jesus».
Frei João Costa
.carmo | nº 258 | dezembro 3 2023