Ponto Carmo

Viva la vida!

1. Depois de terminadas as festas do Natal, celebrámos a Festa do Baptismo do Senhor – foi no passado domingo. Passadas que foram tantas festas, entrámos já nos dias do Tempo Comum, esses dias e domingos em que nos nossos olhos se enchem de esperança caminhando fixos nos olhos do Senhor. Por onde Ele for, nós iremos. Haveremos de acompanhá-l’O quando Ele for orar sozinho ou quando orar com as multidões; haveremos de acompanhá-l’O quando ensinar as gentes e quando elas lhes virarem as costas; quando O aplaudirem e quando O escorraçarem. Quando Ele beber do cálice de ternura e da amizade, nós beberemos com Ele; quando Ele beber o amargo cálice de fel, nós também. A tudo vamos com o Senhor!

2. Não, não abandonaremos jamais o Senhor! Nós somos a Sua companhia; não O abandonaremos!

É, pois, com este firme propósito no coração que, neste domingo, O acompanhamos até à mesa de um casamento! Sim, logo, logo, no início da sua vida pública, Jesus foi a umas bodas! Nada mais começar a anunciar o reino, Ele quis apresentou-se-nos numas bodas! Foi em Caná da Galileia; numa festança de oito dias! Tal foi, pois, o lugar escolhido por Jesus para fazer o seu primeiro milagre!

Ele é o Senhor forte e poderoso, logo poderia ter começado por se manifestar enfrentando o mar bravio e as tempestades que matam. Mas não, Ele não quis que o seu primeiro milagre fosse a mandar calar alguém!

Ele é o Médico divino e o Senhor da saúde, logo, Ele poderia ter preferido começar a manifestar a nossos olhos a vitória do Reino de Deus através da cura de algum doente; mas não, não foi pela devolução do vigor da saúde que Jesus, primeiro, se nos quis manifestar!

Ele é o Senhor da vida e manda mais que a morte. Mas não, Ele não escolheu manifestar-se em primeiro lugar, mostrando quem manda e que, mandando, manda mais que a morte. Não, Ele foi mais humildade, e não foi pela força que, primeiro, se nos manifestou!

3. Jesus quis começar a caminhar no meio de nós, mostrando a presença do Reino de Deus através dos sinais da alegria e da festa. Não preferiu começar nem pela exibição de poderes majestosos, nem exibindo força invencível. O modo de Jesus actuar é inesperado, terno e brilha pela discrição.

4. Haverá puros que O queiram ver apresentar-se hierático e distante. Haverá moralistas que o queiram ver certinho, alinhado pelas rubricas customeiras, sem fazer ondas nem inquietar consciências reconfortadas e acomodadas.

Já Ele, porém, quis, primeiramente, apresentar-se em festa – e não numa festa qualquer, mas num casamento. Poderia ter escolhido uma festa litúrgica, e isso teria uma leitura; se tivesse querido apresentar-se numa festa de militares ou numa formatura de académicos, Ele quereria dizer-nos uma outra coisa qualquer.

Mas não, Jesus quis mostrar-se-nos e o primeiro dos seus sinais aconteceu num casamento! Perdoem-me por isso, os puros, os sérios, os formais e os moralistas habituais. É que eu admiro, sigo, louvo e adoro o Senhor Jesus de coração humano a palpitar, que se alegrou e nos soube alegrar com as alegrias de um jovem casal; desculpem, sim, mas eu admiro, sigo, louvo e adoro o Senhor Jesus que de coração amigo e terno, soube tomar um copo de vinho tinto na mão e bebeu e brindou à vida! Sim, meus caros, lamento muito, mas eu admiro, sigo, louvo e adoro aquele Senhor Jesus que perdeu oito dias da sua vida a comer e a beber – sim, também jejuou, também rezou muito; também foi para o deserto; mas sim, o meu Deus percebe as alegrias simples da vida e gosta de vinho, que querem? Um Deus capaz de passar oito dias a festejar e a alegrar-se, a conversar e a bailar – ah, dir-me-ão aqueles mais frios, mas não teria ele coisas melhores, mais santas e memoráveis para fazer; para mostrar em primeiro lugar? Sim, teria e tinha, mas Ele quis-se-nos mostrar em festa! E mostrou! Não é que passasse a vida em festanças, não passou, mas foi a um casamento para abençoar com a sua presença e alegria um casal, um homem e uma mulher.

5. Mostrou-se alegre e em festa, não triste, nem chupa-limão, nem surumbático, nem azedo!

6. Saiba, pois, quem quiser saber e aceitar: o primeiro milagre de Jesus foi feito num casamento!

7. Olhemos para o casamento, pois nunca os Evangelhos nos dizem que Jesus participou numa festa da ordenação de um sacerdote! É de prestar muita atenção, portanto!

Eu sinto e julgo a presença de Jesus nas Bodas de Caná da Galileia como uma bênção sobre a família de ontem, de hoje e de sempre, e uma aprovação santificadora daquela realidade social e eclesial – tanto, pois, significa a Sua presença nessa festa. Reparemos, pois, não é na família que, entre nós, tudo se aprende? Não é na família que nascemos, crescemos e nos multiplicamos, nos fazemos homens e mulheres? Nos perdoamos e santificamos? Não é na família que tecemos sonhos, aprendemos a ser felizes, ou com pouco, ou com muito? Não é ali que que aprendemos a amar, a entregar e a tecer a vida em novas vidas? Não é ali que aprendemos a ser virtuosos e a corrigir os erros? É, sim. É ali e é, em razão disso, que a família não tem substituto à altura! Jesus fez, pois, muito bem em ir a umas bodas e iniciar ali os seus sinais messiânicos – transformando a água em vinho! –, que é como quem no quer dizer: eu sei que nem sempre é fácil viver e sonhar em família; nem sempre é fácil um homem e uma mulher amarem-se até ao fim; ajudarem-se sempre, mesmo quando apetece fugir e chorar às escondidas!

Sim, a família é um projecto amado por Deus e Deus sabe que não é um desígnio fácil, mas Ele sabe e quer que ali nunca falte a alegria!

Frei João Costa
.carmo | nº 306 | janeiro 19 2025