Verbos da Palavra

Guardar

Jesus ensina-nos que se O amarmos, guardaremos a Sua Palavra e o Seu Pai amar-nos-á. Ou seja, guardaremos o próprio Deus dentro de nós, tornando-O íntimo e inesquecível.

Pois aquele que guarda algo, guarda num local seguro e se o guarda é porque tem a intenção de voltar a encontrá-lo. Portanto, por um esforço da própria vontade, retém na memória o objeto a ser guardado, o local onde foi guardado e também o ato concreto de o ter guardado.

O objeto a ser guardado é a Palavra de Cristo. E como a Sagrada Escritura nos revela: «No princípio era a Palavra e a Palavra estava junto de Deus e a Palavra era Deus (…) E a Palavra fez-se carne» (Jo 1). Logo, guardamos o próprio Deus.

O local a ser guardado é dentro do nosso coração, o âmago da nossa interioridade e integralidade, pois a pessoa mais próxima de Deus e que melhor acolheu-O e guardou-O foi a Santíssima Virgem Maria; e revela-nos a Sagrada Escritura que «a Sua mãe guardava todas estas coisas no seu coração» (Lc 2). E ensina-nos o próprio Jesus: «Não junteis tesouros aqui na terra, onde a traça e a ferrugem destroem, e os ladrões assaltam e roubam. Ao contrário, juntai para vós tesouros no céu, onde nem a traça e a ferrugem destroem, nem os ladrões assaltam e roubam. Porque, onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração».(Mt 6)

E o ato de guardar, que é o resultado da intenção e esforço pessoais, é originado pelo Amor, pois diz Jesus: «Quem Me ama guardará a minha Palavra». Logo, é o Amor que move a alma à ação de reter Deus no seu coração aberto e dilatado pela Graça Divina.

Não somos nós que queremos guardar Deus, é Deus que quer ser guardado por nós. Pois é Ele quem dispõe a alma a tornar-se recetiva ao dom do Doador e interessada nessa proposta de amor mútuo. Pois diz Jesus: «Porque sem Mim nada podeis fazer» (Jo 15, 5). Pelo que nós só poderemos devolver o Amor com que Deus primeiro nos amou, levando-nos a guardá-lo no nosso coração.

Acolhemos e guardamos simultaneamente a Palavra Divina e a Palavra Encarnada no nosso coração durante a Santa Missa quando escutamos e meditamos nas leituras da Sagrada Escritura e quando comungamos o Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo sob as espécies do pão eucarístico consagradas pelo sacerdote sobre o altar.

Guardamos Deus no nosso coração quando nos recolhemos após a Comunhão e nos permitimos ser transformados n´Ele e por Ele com Ele natural e misticamente. E assim tornamo-nos no Sacrário Vivo da Santíssima Trindade como o foi Nossa Senhora com Jesus no seu ventre, no seu colo e no seu coração. Pois diz o Evangelho: «Nós viremos a ele e faremos nele a nossa morada». E porque assim somos templo vivo de Deus Pai e Filho, também o seremos do Espírito Santo, pois continua o Evangelho: «Mas o Paráclito, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, vos ensinará todas as coisas e vos recordará tudo o que vos disse».

Nesta intimidade divina, entenderemos como para nós estas palavras de Moisés: «Qual é, na verdade, a grande nação que tem a divindade tão perto de si como está perto de nós o Senhor, nosso Deus, sempre que O invocamos?» (Dt 4).

José Alexandre
Domingo VI da Páscoa [Ano C]