Verbos da Palavra

Dou-vos

«Dou-vos um mandamento novo: que vos ameis uns aos outros.
Como Eu vos amei, amai-vos também uns aos outros»

Quando escutamos estas palavras proferidas pelo próprio Deus, é importante que meditemos no verbo que Ele usou: Dou-vos.

Deus não nos exige amor, Ele dá-nos o amor. Deus não nos exige que nos amemos uns aos outros, Ele dá-nos a capacidade de nos amarmos uns aos outros. E porquê? Porque Deus é Graça, Deus dá-nos tudo de graça.

Então, quando escutamos estas palavras, recordamo-nos também do que Jesus disse: «Vinde a mim, todos os que andais fatigados e oprimidos, e eu vos darei descanso. Tomai o meu jugo sobre vós e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para as vossas almas, pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve» (Mateus 11,28-30).

Associando ambos os textos, é como se Jesus nos dissesse: vinde a Mim, todos vós que não sabeis amar. Vem a Mim, homem, e eu te ensinarei a amar a tua esposa. Vem a Mim, mulher, e eu te ensinarei a amar o teu marido. Vinde a Mim, pais, e eu vos ensinarei a amar os vossos filhos. Vinde a Mim, filhos, eu vos ensinarei a amar os vossos pais. Vinde a Mim, amigos, e eu vos ensinarei a amar os vossos irmãos e irmãs universais. Vinde a Mim, que sou a fonte do Amor e eu próprio vos saciarei e vos darei água pura em abundância para que possais vós dá-la de beber ao vosso próximo.

É este o segredo do Amor: permitir-se, em primeiro lugar, ser amado; pois ninguém pode dar aquilo que não tem. Ninguém pode amar se primeiro nunca foi amado. E o primeiro que nos amou foi Deus, pois diz a Sagrada Escritura: «Tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até ao fim» (João 13,1). Isto vai ao encontro daquilo que Jesus diz neste Evangelho: «Como Eu vos amei, amai-vos também uns aos outros». Outra vez: «Como Eu vos amei».

Deus não nos pede nada que não nos tenha dado antes. E isto é profundamente belo e pedagógico. Pois como o próprio Jesus nos ensina: «A não ser que vocês se convertam e se tornem como crianças, jamais entrarão no Reino dos Céus» (Mateus 18,3) O que é ser como crianças? O que é que é realmente a infância espiritual que Jesus tanto nos pede? É a humildade de reconhecer que tudo, absolutamente tudo, do que há de bom em nós provém de Deus. E, além disso, é a confiança absoluta de que Deus é o nosso Bom Pai que nos quer dar e dar em abundância. Ele jamais nos deixará de mãos vazias. E o que é que Ele nos quer dar? O melhor. O melhor para a salvação da nossa alma, como o amor, a paciência, a doçura, o perdão, a compaixão.

Deus quer-nos dar Fé, Esperança e Caridade, ou seja, quer dar-Se a Si próprio a nós, derramar-se em nós, preencher-nos Dele, numa íntima comunhão divina de amor. Não é isso que é a Eucaristia? Não é isso que Ele faz verdadeiramente quando O comungamos? Recebemos o Corpo, o Sangue, a Alma e a Divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo, recebemos Deus na nossa carne, frágil e humilde como um pedacinho de pão, Ele que é o Criador de todo o universo, dos céus, dos continentes, dos oceanos, dos abismos, das plantas e dos animais, Ele que nos criou à Sua imagem e semelhança, Ele que tomou a forma humana através da carne da Santíssima Virgem Maria apenas para nos vir resgatar na Cruz, para nos dar o direito à Vida Eterna que tínhamos perdido por causa dos nossos pecados. Vede, ó católicos, é esse o Deus que vós comungais. Então, Ele dá-se a nós. E nós, damo-nos a Ele? Se nós não confiamos neste excesso de amor, como podemos dá-lo? Se nós não nos permitirmos ser assim amados, como podemos praticar esse amor?

Não desanimemos, nem desesperemos: Deus dá. Nunca duvidemos: Deus dá. E é o próprio Jesus quem nos afirma isso neste Evangelho: «Dou-vos um mandamento novo: que vos ameis uns aos outros. Como Eu vos amei».

Não nos iludamos: sem Deus não somos capazes de nada, de absolutamente nada. É o próprio Cristo quem o afirma: «Porque sem Mim nada podeis fazer» (Jo 15, 5) E Jesus é «o Caminho, a Verdade e a Vida», ou seja, Ele só fala a verdade. E a Verdade diz: «Porque sem Mim nada podeis fazer». Não nos cansemos a procurar ser bons apenas pelos nossos próprios esforços, pois Jesus diz: «Porque me chamas de bom? Ninguém é Bom senão um que é Deus». (Mc 10, 18) Permite, então, que seja Deus a tua Bondade.

Isso não nos deve desencorajar, pelo contrário, deve-nos motivar. Pois tornamo-nos conscientes de que Deus não espera a nossa perfeição nem a capacidade dos nossos esforços heroicos. Não, Ele convoca-nos para a grande missão do Amor justamente na nossa imperfeição e na nossa fraqueza. Pois no auge da nossa miséria é onde resplandece a Sua gloriosa Misericórdia. Pois como afirma o apóstolo São Paulo: «Onde o pecado abunda, a Graça superabunda». Onde a nossa incapacidade de amar abunda, a Graça do excesso de Amor Divino superabunda e transforma-nos em Seus discípulos.

Somos pecadores e como declara São Paulo: «Eu bem sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita o bem, já que querer o bem está ao meu alcance, mas realizá-lo não está. De facto, não faço o bem que quero, mas ponho em prática o mal que não quero». (Rm 7, 18-19)

Isto é tudo o que podemos dar a Deus, a nós próprios e ao nosso próximo: fraqueza e frieza. Mas com Deus e em Deus e por Deus, é isto que podemos dar: o amor e o calor que Dele recebemos primeiro. Todos nós somos um sonho de Deus, antes de sermos criados por Ele, fomos sonhados por Ele. É Deus quem o declara a Jeremias: «Antes de seres formado no ventre da tua mãe, Eu já te conhecia». (Jr 1, 5) Nós somos o resultado do excesso de amor um Deus que nos quer santos, mas isso só o conseguiremos ser se nos mantivermos unidos a Ele. Pois «Bendito é aquele que confia no Senhor e cuja esperança é o Senhor. Porque ele é como a água plantada junto às águas, que estende as suas raízes para o ribeiro e não receia quando vem o calor, porque as suas folhas permanecem verdes; e, no ano da seca, não se perturba, nem deixa de dar fruto». (Jr 17, 7-8)

Deus sonhou-nos e continua a sonhar-nos. Pois quando se fala sobre a Nova Jerusalém celeste no livro de Apocalipse, eis que nos é dito: «Vi, então, um novo céu e uma nova terra, pois o primeiro céu e a primeira terra tinham passado, e o mar já não existia. E vi a cidade santa, a nova Jerusalém, que descia do céu, de junto de Deus, preparada como uma noiva adornada para o seu esposo. E ouvi uma voz forte, que vinha do trono e dizia: Eis a tenda de Deus entre os homens! Ele estabelecerá entre eles a sua tenda: eles serão o seu povo, e o próprio Deus estará com eles e será o seu Deus».

Deus quer estabelecer a Sua morada na nossa alma e Ele fá-lo sempre que O comungamos com amor. Deus habita em nós, assim como habita na Sua Santa Igreja Católica Una e Apostólica, a Sua Esposa, a Sua Nova Jerusalém Celeste. E ela somos nós, pois nós somos as pedras vivas da Igreja. E continua a Sagrada Escritura:

«Ele enxugará todas as lágrimas dos seus olhos, e nunca mais haverá morte, nem luto, nem gritos; nunca mais haverá dor, porque o mundo antigo desapareceu. Disse, então, Aquele que estava sentado no trono: Eis que faço novas todas as coisas. E acrescentou: Escreve, porque estas palavras são dignas de fé e verdadeiras». (…)

Ou seja, Jesus restaura-nos, Jesus pacifica-nos. Pois é Ele que faz novas todas as coisas, Ele refaz-nos sempre que nos convertemos e sempre que confessamos os nossos pecados. Ele renova-nos nos santíssimos sacramentos da Eucaristia e da Confissão. Essa é a verdade que o mundo, ó católico, te quer roubar e fazer-te desacreditar, mas Jesus chama-te e chama-te pelo teu nome, pois Ele ama-te. Jesus ama-te infinitamente. Vem comungá-lo e permite-te ser amado, pacificado, restaurado, renovado e feliz. Sim, Deus quer-te feliz. Atreve-te a ser feliz como só os santos o foram. Atreve-te a viver de Amor. Loucamente apaixonado por Deus como Ele é loucamente apaixonado por ti. Atreve-te. Confia.

E porque todos somos belíssimos aos seus olhos e Deus dá, ou seja, Deus ainda acrescenta mais beleza, Deus quer-nos adornar com as mais belas pedras preciosas, pois é-nos revelado no livro de Apocalipse: «A estrutura da muralha era de jaspe, e a cidade de ouro puro, semelhante ao vidro puro. Os alicerces da muralha da cidade estavam adornados com toda a espécie de pedras preciosas». E a Palavra fala-nos do jaspe, da safira, da calcedónia, da esmeralda, entre outras. Deus quer tornar-nos puros como cristais para que a Sua luz e amor possam resplandecer através de nós. E quando esse sonho se concretizar, nós estaremos adornados com as pedras preciosas do autoconhecimento, da honestidade, da coragem, do perdão, da humildade e de tantas mais.

Podemos acreditar que sim, que um dia conseguiremos amar como Ele nos amou. E porquê? Porque Deus dá.

«Dou-vos um mandamento novo: que vos ameis uns aos outros. Como Eu vos amei, amai-vos também uns aos outros».

José Alexandre Oliveira
Domingo V da Páscoa [Ano C]