«Eu conheço as minhas ovelhas e elas seguem-Me»

Jesus disse que nos conhece; além disso, comparou-nos a ovelhas. A comparação conduz-nos inevitavelmente a volvermos o nosso olhar sobre nós próprios, pelo que Jesus procura que também nós, assim como Ele, nos conheçamos.

Além disso, Jesus indica-nos a nossa pertença: ninguém nos poderá arrebatar da mão do Pai, ou seja, somos filhos. Mas não somente no sentido natural, mas sobrenatural. Somos filhos de Deus. Por outras palavras, somos criaturas criadas pelo Criador. E o mesmo Criador que criou o humano, criou os animais e a natureza, pois de ambos faz uso para nos comparar e levar ao conhecimento profundo de nós próprios.

As palavras de Jesus remetem, portanto, à nossa origem, assim como nos é relatado no livro de Génesis (1:25-27): «Deus fez os animais selvagens segundo a sua espécie» e «criou o homem à sua imagem; criou-o à imagem de Deus, criou o homem e a mulher».

Deus criou o homem e a mulher à Sua imagem e semelhança e criou-os para serem uma só carne em unidade com Ele; o que, de certa forma, desvenda-nos um vislumbre da beleza do mistério da Santíssima Trindade. Uno e Trino é justamente a imagem que as Sagradas Escrituras nos revelam de Deus.

A Santíssima Trindade, embora permaneça um mistério, dialoga intrinsecamente com o autoconhecimento do qual o Humano é capaz, pois tendo nós sido criados à imagem e semelhança de Deus, não nos podemos conhecer se não conhecermos Deus. E esse caminho rumo ao autoconhecimento, como nos parece indicar Jesus, só é possível através de uma leitura do mundo criado (fauna e flora), – pois Jesus utiliza-o como comparação didática -, mas também e essencialmente através de um movimento e recolhimento internos, posto que Jesus também ensinara: «O Reino de Deus está dentro de vós» (Lc 17, 21). Ou seja, Deus está dentro de nós, é o interior da nossa alma, pelo que a alma humana é feita à Sua imagem e semelhança. Portanto, Deus fala-nos externamente através da Sua Palavra revelada na Sagrada Escritura, mas também a partir do interior, do que há de mais profundo na nossa consciência e história pessoal.

Pois no Evangelho, Jesus diz: «As minhas ovelhas escutam a minha voz. Eu conheço as minhas ovelhas e elas seguem-Me». Assim sendo, a Palavra de Deus revela-se como meio indispensável para o autoconhecimento na Obra de Edith Stein (Santa Benedita da Cruz), para a qual a Educação deve ser um caminho seguro rumo à Verdade, sendo que a Verdade é Jesus: «Para chegar à ideia da humanidade perfeita, dispomos de diversos caminhos. Os rastos da Trindade no espírito humano são apenas um ponto de partida. Esta ideia encontra-se diante dos nossos olhos numa dupla forma: no primeiro homem antes da queda e na humanidade de Cristo» (Estrutura da Pessoa Humana).

José de Barcelos
Domingo IV da Páscoa [Ano C]